terça-feira, 26 de outubro de 2010

Historiadores e Histórias: Carlos Viegas Gago Coutinho

Carlos Viegas Gago Coutinho
 Carlos Viegas Gago Coutinho (Lisboa, 17 de Fevereiro de 1869 — Lisboa, 18 de Fevereiro de 1959) foi um geógrafo cartógrafo, oficial da Marinha Portuguesa, navegador e historiador. Juntamente com o aviador Sacadura Cabral, tornou-se um pioneiro da aviação ao efectuar a Primeira travessia aérea do Atlântico Sul, no hidroavião Lusitânia.

 Biografia

Nasceu em Belém, Lisboa, em 17 de Fevereiro de 1869, filho de José Viegas Gago Coutinho e de Fortunata Maria Coutinho.
De família humilde, não pode frequentar, como desejava, o curso de Engenharia na Alemanha e ingressou, aos 17 anos, na Marinha Portuguesa, tendo terminado o curso da Escola Naval em 1888.
Serviu em vários navios e participou nas operações militares de Tungue em 1891 e em Timor em 1912.
Distinguiu-se como cartógrafo e geodeta a partir de 1898, quando de sua primeira comissão em Timor. Até 1920 levantou e cartografou não apenas aquele território mas também o de Niassa (1900), Congo (1901), Zambézia (1904-1905), Barotze (1912-1914), São Tomé e Príncipe (1916), estabelecendo vértices geodésicos e determinando coordenadas em missões científicas onde conseguia precisões notáveis, devido ao seu rigor e dedicação à missão que lhe fora confiada. Respondeu pela delimitação definitiva da parte norte da fronteira entre Angola e Zaire.
No decurso destes trabalhos fez a pé a travessia da África, onde conheceu Sacadura Cabral. Este incentivou-o a dedicar-se ao problema da navegação aérea, o que levou ao desenvolvimento do sextante de bolha artificial, posteriormente comercializado pela empresa alemã Plath com o nome "Sistema Gago Coutinho". Juntos inventaram ainda um "corretor de rumos" (o "plaqué de abatimento") para compensar o desvio causado pelo vento. Para testar essas ferramentas de navegação aérea, realizaram em 1921 a travessia aérea Lisboa-Funchal.
Assim preparados, em 1922, no contexto das comemorações do centenário da Independência do Brasil, os dois aviadores realizaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, sendo recebidos entusiasticamente em várias cidades do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife), bem como no regresso a Portugal.
Gago Coutinho recebeu largo reconhecimento devido a este feito, tendo sido promovido a contra-almirante e condecorado com as mais altas e prestigiosas distinções do Estado Português, além de ter recebido várias outras condecorações estrangeiras. Retirou-se da vida militar em 1939.
Em 1954 a TAP convidou-o para um voo experimental ao Rio de Janeiro em um DC-4, antecipando a futura linha regular que se estabeleceria em 1961.
A partir de 1925 dedicou-se à História Náutica, tendo desenvolvido vasta obra de investigação científica, publicando significativa variedade de trabalhos geográficos e históricos, principalmente acerca das navegações portuguesas, como, por exemplo, "O Roteiro da Viagem de Vasco da Gama" e a sua versão de "Os Lusíadas". Vários de seus trabalhos encontram-se compilados na "Náutica dos Descobrimentos".
Correspondeu-se com grandes nomes da história da aviação da época como Alberto Santos Dumont, apoiou Sarmento de Beires e João Ribeiro de Barros.
Pertenceu ao Grande Oriente Lusitano da Maçonaria Portuguesa e foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde foi responsável por uma das secções.
Por decisão da Assembleia Nacional foi promovido a Almirante em 1958. Faleceu no dia seguinte a completar 90 anos, sendo sepultado no Cemitério da Ajuda em Lisboa.

 Homenagens

Entre outras homenagens, vários logradouros homenageiam Gago Coutinho:
    * Uma rua no Rio de Janeiro, próxima ao Parque Guinle
    * Uma rua em São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil
    * Uma rua em Londrina, Paraná, Brasil
    * Praça onde localiza-se o Aeroporto Internacional de Salvador, Salvador, Bahia, Brasil
    * Avenida Almirante Gago Coutinho, em Lisboa
    * Uma Avenida em Santo André,na Grande São Paulo
    * O edíficio da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, no Algarve,Portugal, tem sede na rua Rua Gago Coutinho, n.º1
    * Uma rua em Cuiabá, Mato Grosso, próximo a Av. CPA
    * Uma rua em Viana do Castelo, Portugal.

 Obras

    * COUTINHO, Gago. A náutica dos descobrimentos. Os descobrimentos marítimos vistos por um navegador. Colectânea de artigos, conferências e trabalhos inéditos do Almirante Gago Coutinho, Org. e pref. do Comandante Moura Braz, 2 vols., Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1951-1952.
    * COUTINHO, Gago. Ainda Gaspar Corte-Real, 35 p., Lisboa, 1950.
    * COUTINHO, Gago. Influencia que as primitivas viagens portuguesas a America do Norte tiveram sobre o descobrimento das "Terras de Santa Cruz", 26 p, Lisboa, 1937.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Historiadores e História: Jacques-Bénigne Bossuet


Nascimento     27 de setembro de 1627, 
Cidade de Dijon França
Morte     12 de abril de 1704 Paris, França 
Nacionalidade     Francês
Ocupação     Bispo, orador, teólogo e escritor
             Magnum opus     A Política tirada da Santa Escritura

Jacques-Bénigne Bossuet (Nascido em, 27 de setembro de 1627 - e morreu em Paris, 12 de abril de 1704) foi um bispo e teólogo francês.
Bossuet foi um dos primeiros a defender a teoria do absolutismo político; ele criou o argumento que governo era divino e que os reis recebiam seu poder de Deus.
Foi autor de "A Política tirada da Sagrada Escritura", publicada postumamente em 1709, na qual defende a origem divina do poder real: Deus delegava o poder político aos monarcas, conferindo-lhes autoridade ilimitada e incontestável. O caso mais exemplar de governante que se serviu das idéias de Bossuet foi Luís XIV de França, chamado "Rei Sol".


 Biografia

Jacques Bossuet foi um amador do dos principais teóricos do absolutismo por direito divino, nasceu em uma família de magistrados em 1627, em Dijon, onde recebeu educação no colégio jesuíta. Por estar destinado à vida religiosa, recebeu tonsura (um corte especial de cabelo com um círculo raspado no alto posterior do crânio) aos 10 anos. Aos 15 foi para Paris onde estudou teologia no College de Navarre e presenciou os motins da Fronde, um levante de amotinados contra o absolutismo real
Em 1652 foi ordenado padre e recebeu doutorado em teologia. Seu pai obteve-lhe a indicação para cônego na Mogúncia (Metz) onde ficou popular como orador em controvérsia com os protestantes. Dividiu o tempo entre Metz e Paris até 1659 e a partir de 1660 raramente deixava a capital. Lá, pregou os sermões da quaresma em dois famosos conventos, o dos franciscanos mínimos e o dos carmelitas, e em 1662 foi chamado a pregar para Luís XIV. Ficaram famosos suas orações fúnebres, principalmente nos funerais Henrietta Maria of France, rainha da Inglaterra e de sua filha Henrietta Anne da Inglaterra, cunhada de Louis XIV, da princesa Anne de Gonzague, do chanceler Michel Le Tellier, e o do Grande Condé .
Foi designado bispo de Condom (1669), no sudoeste da França, mas, escolhido para tutor do Delfim, o filho mais velho do rei, renunciou ao bispado e ingressou na corte, onde teve a oportunidade de aperfeiçoar seus conhecimentos e integrar-se na política. Eleito para a Academia Francesa, foi também nomeado conselheiro do rei. Foi designado bispo de Meaux em 1681, e deixou a corte; embora mantivesse amizade com o delfim e o rei, foi um bispo dedicado, pregando e ocupando-se de organizações de caridade, poucas vezes deixando sua diocese.
Bossuet estava tão integrado ao absolutismo do reinado de Luís XIV que chegou ao extremo de definir como herético qualquer um que tivesse opinião própria. Foi o formulador da ideologia gaulesa ou galicana, que estabelecia certos direitos do rei contra o papa, uma questão que sempre fora polêmica. Temendo uma cisão dentro da igreja, entre os partidários do rei e os ultramontanistas (alusão a estar a sede da Igreja além dos Alpes), que consideravam os poderes do papa supremos e inatacáveis mesmo em solo francês. Promoveu uma assembléia geral do clero francês em 1681-1682 cujo documento final redigiu e na qual ficou definido que o papa era autoridade somente em matéria religiosa.
Não podia deixar de se envolver também em outras questões igualmente contemporâneas como o jansenismo, a doutrina de que a salvação é uma graça concedida apenas a alguns, e o quietismo, uma forma de misticismo de contemplação passiva e abandono à presença divina, pregada pelo arcebispo de Cambrai, Francois Fenelon, condenado em Roma em 1699. Contra Fenelon escreveu Instruction sur les etats d'oraison (1697) e Relation sur le quietisme (1698). Também atacou violentamente o teatro francês como imoral no seu Maximes et reflexions sur la comedie (1694).
Seu livro Política tirada das Santas Escrituras, 1708, valeu-lhe a reputação de teórico do absolutismo. Nessa obra ele desenvolve a doutrina do direito divino segundo a qual, qualquer governo formado legalmente expressa a vontade de Deus e é sagrado e qualquer rebelião contra ele é criminosa. Em contra partida, o soberano deve governar seus súditos como um pai, à imagem de Deus, sem se deixar afetar pelo poder. Escreveu também Exposição da Fé Católica, História das Variações das Igrejas Protestantes e "Discurso sobre a História universal. Bossuet faleceu em Paris em 12 de abril de 1704. Jacques Bossuet : para este filósofo francês o rei era o representante de Deus na Terra. Portanto, todos deveriam obedecê-lo sem contestar suas atitudes.


 Obra

    * discours sur l'Histoire universelle (1681)
    * Histoire des variations des Églises protestantes (1688)
    * Défense de la Tradition et des saints Pères (1693)
    * Maximes et réflexions sur la comédie (1694)
    * La Politique tirée de l'Écriture sainte (póstumo) (1709)
    * Traité de la connaissance de Dieu et de soi-même (póstumo) (1741)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Historiadores e História: Fernão Lopes


Fernão Lopes (1378 — 1459) foi funcionário do paço e notário, nomeado em 1434 Cronista-Mor pelo rei D. Duarte, escreveu as crónicas dos reis D. Pedro I, D. Fernando e D. João I (1.ª e 2.ª partes).
Do ponto de vista da forma, o seu estilo representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular. Ele próprio diz que nas suas páginas não se encontra a formosura das palavras, mas a nudez da verdade. Era um autodidacta. Foi um dos legítimos representantes do saber popular, mas já no seu tempo um novo tipo de saber começava a surgir: de cunho erudito-acadêmico, humanista, classicizante.

 Biografia


 Ocupa, entre a série dos cronistas gerais do Reino, um lugar de destaque, quer como artista quer pela sua maneira de interpretar os factos sociais. Fernão Lopes poderá ter nascido entre 1378 e 1390, aproximadamente, visto que em 1418 já ocupava funções públicas de responsabilidade (era Guardião-mor das escrituras da Torre do Tombo). Pertencia portanto à geração seguinte à que viveu o cerco de Lisboa e na batalha de Aljubarrota. A guerra com Castela acabou em 1411, pelo que Fernão Lopes pôde ainda acompanhar a sua fase, e conhecer pessoalmente alguns dos seus protagonistas, como D. João I, Nuno Álvares Pereira, os cidadãos de Lisboa que se rebeliaram contra D. Leonor Teles e elegeram o Mestre de Avis seu defensor em comício popular, alguns dos procuradores às Cortes de Coimbra de 1385 que, apoiando o dr. João das Regras declararam o trono vago e, chamando a si a soberania, elegeram um novo rei e fundaram uma nova dinastia.
Profissionalmente, Fernão Lopes era um tabelião, provavelmente de origem viloa, mesteiral, porque contava um sapateiro na família de sua mulher. Foi empregado da família real e da corte, escrivão de D. Duarte, ainda infante, do rei D. João I, e do infante D. Fernando, em cuja casa ocupou o importante posto de «escrivão da puridade», que correspondia ao cargo de maior confiança pessoal concedido pela alta nobreza. A partir de 1418 aparece a desempenhar as funções de Guarda-mor da Torre do Tombo, encarregado de guardar e conservar os arquivos do Estado, lugar de confiança da Corte. Como prémio dos seus serviços, recebeu o título de «vassalo de El-rei», carta de nobreza atribuída então com certa liberalidade a membros das classes não nobres. Em 1454 foi reformado do cargo de Guarda-mor da Torre do Tombo devido à sua idade. Ainda vivia em 1459, segundo atesta um documento de transmissão de sua herança.

Durante este longo período de actividade, Fernão Lopes atravessou os reinados de D. João I, D. Duarte, o governo de D. Pedro, e parte do reinado de D. Afonso V. Conheceu muitas alterações políticas e sociais. Ao rei eleito e popular, D. João I, viu suceder um rei mais dominado pela aristocracia, D. Duarte; viu crescer o poder feudal dos filhos de D. João I, e com ele o predomínio da nobreza, que saíra gravemente abalada da crise da independência. Assistiu à guerra civil subsequente à morte de D. Duarte, à insurreição de Lisboa contra a rainha viúva D. Leonor, e à eleição do infante D. Pedro por esta cidade, e em seguida pelas cortes, para o cargo de Defensor e Regedor do Reino, em circunstâncias muito parecidas com as que tinham levado o mestre de Avis ao mesmo cargo e seguidamente ao trono em 1383-1385. Assistiu depois à reacção do partido da nobreza, à queda do infante D. Pedro, à sua morte na sangrenta batalha de Alfarrobeira, à perseguição e dispersão dos seus partidários, ao triunfo definitivo da nobreza, no reinado. Foi testemunha do início da expansão ultramarina e teve a sua quota parte no desastre militar de Tânger, por causa da morte de seu filho médico do infante D. Fernando, que veio a morrer em cativeiro, em Marrocos.
Fernão Lopes viveu uma das épocas mais perturbadas da história de Portugal, cheia de ensinamentos para o historiador. A carreira de Fernão Lopes como historiador é provavelmente a mais longa do que há pouco se supôs, pois é provável que já em 1419 realizasse por encargo do então infante D. Duarte a compilação e redacção de uma crónica geral do reino de Portugal. Só em 1434, porém, aparece oficialmente encarregado pelo rei D. Duarte de relatar as histórias dos reis anteriores e os feitos do rei D. João I, pelo qual seria remunerado com uma pagamento anual. Após a morte deste rei o Regente D. Pedro, em nome de D. Afonso V, confirma Fernão Lopes na mesma incumbência, mantendo-lhe o salário. Em 1449, pouco antes da batalha de Alfarrobeira, ainda recebe um pagamento de D. Afonso V pelos seus trabalhos historiográficos, mas já nessa época entrara em actividade um outro cronista, Gomes Eanes de Zurara. A última obra em que Fernão Lopes trabalhou, a Crónica de D. João I, embora monumental, ficou incompleta e foi continuada por Zurara (a Crônica estava dividida em 3 partes das quais Fernão Lopes só pode escrever as duas primeiras).

 Obras

Muitas de suas obras se perderam, sendo as três abaixo citadas as de sua autoria:

    * Crônica de el-rei D. Pedro I 

    * Crônica de el-rei D. Fernando
    * Crônica de el-rei D. João I, 1.ª e 2.ª partes

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Historiadores e História: Alberto Sampaio


 Biografia

Alberto Sampaio nasceu em Guimarães, a 15 de Novembro de 1841, na antiga Rua dos Mercadores, filho de Bernardino de Sampaio e Araújo e Emília Ermelinda Cardoso Teixeira. A infância passou-a entre Guimarães e Famalicão, onde a sua família possuía a Quinta de Boamense, na freguesia de Cabeçudos. Aprendeu as primeiras letras em Landim e completou em Braga os estudos que lhe permitiram partir para Coimbra, aos 15 anos. Em 1863, formou-se em Direito. Ao longo de meia década em Coimbra, participou activamente na vida académica, colaborando em jornais e convivendo com alguns dos jovens mais notáveis da sua geração, como Antero de Quental, com quem fez uma viagem aos Estados Unidos da América, pouco antes das celebradas Conferências do Casino. Envolveu-se activamente num movimento que deixou marcas profundas no imaginário académico coimbrão, a Sociedade do Raio, que se bateu pela renovação da Universidade. 

Alberto Sampaio
 

De Coimbra, mudou-se para Lisboa, onde ensaiou o exercício da advocacia. Por pouco tempo. Não tardaria muito, estava de volta à sua terra natal, onde, apesar da sua personalidade avessa à exposição pública, manteve uma intervenção cívica constante.
Em 1869, integrou a filial de Guimarães da Associação Arqueológica de Lisboa. Na década de 1870 conheceu Oliveira Martins no Porto. Em 1873, fez parte do núcleo dos fundadores da Companhia dos Banhos de Vizela, subscrevendo, no ano seguinte, o contrato para o aproveitamento das nascentes das águas medicinais de Vizela e para a construção de estabelecimento de banhos. Entre 1874 e 1876, esteve ligado ao Banco de Guimarães, onde exerceu funções de guarda-livros. Em Março de 1881, integrou a comissão que a Câmara de Guimarães incumbiu da missão de avaliar as vantagens da introdução no concelho de vides americanas resistentes à filoxera, como forma de prevenção daquela praga das vinhas. A agricultura e a vitivinicultura, em particular incluíam-se entre as suas paixões, sendo famosos os vinhos que produzia na Quinta de Boamense. Em 1883, integrou o grupo de três vimaranenses a quem a Câmara encarregou de seleccionar os produtos que seriam levados à Exposição Agrícola de Lisboa, que se realizou em Maio desse ano.
Por essa altura, já tinha ajudado a fundar a Sociedade Martins Sarmento, à qual o seu nome ficaria para sempre ligado. Foi proclamado sócio honorário desta Instituição em 1891.
Alberto Sampaio foi a alma mater da grande Exposição Industrial de Guimarães de 1884, promovida pela Sociedade Martins Sarmento. Enquanto decorria aquele certame, teve a sua primeira experiência de participação política activa, ao apresentar-se como candidato a deputado pelo círculo de Guimarães. Receberia pouco mais de 3% dos votos naquela que foi a primeira eleição de João Franco como deputado pelo círculo de Guimarães. Não repetiu a experiência, apesar de, em 1887, ter colaborado com Oliveira Martins no Projecto de Lei de Fomento Rural. O único cargo público que desempenhou ao longo da sua vida foi o de procurador à Junta Geral do Distrito de Braga, em representação Guimarães. Em 1892, numa carta para Luís Magalhães, reitera a sua distanciação em relação aos cargos públicos ao descrever-se ao seu amigo, ao recusar-se ao cargo de deputado, com as seguintes palavras: "Céptico, excêntrico, cada vez mais separado do mundo,nada tenho que fazer em Lisboa, como representante de quaisquer eleitores". A sua modéstia foi mesmo acentuada pela viúva de Luís Magalhães, que o descreveu como sendo alguém que "quase pedia desculpa do seu saber e do seu valor às pessoas com quem convivia".
Entretanto, afirmou-se progressivamente como pioneiro da história económica e social, dando início aos estudos de história agrária em Portugal, com a publicação na Revista de Guimarães, em 1885, do primeiro artigo da série A: propriedade e a cultura do Minho, a que daria continuidade com a sua obra mais conhecida, As vilas do Norte de Portugal. Com os textos sobre o Norte marítimo e As póvoas marítimas, Alberto Sampaio deu também um forte impulso inicial aos estudos sobre a problemática do desenvolvimento marítimo.
No princípio de 1900, na sequência da morte do seu irmão José, que se seguiu em poucos meses à de Martins Sarmento, Alberto Sampaio muda-se definitivamente para Boamense, concelho de Vila Nova de Famalicão, onde se dedica à agricultura e, de modo cada vez mais intermitente, aos estudos históricos. Aí viria a falecer (e não em Vila Nova de Gaia, ao contrário do que é referido em muitas obras de referência) aos 67 anos, no primeiro dia de Dezembro de 1908. Teve como amigos e defensores da sua obra, além dos já citados Antero de Quental e Oliveira Martins, também o próprio Martins Sarmento, Ricardo Severo e Rocha Peixoto.
Após a sua morte, a obra de Alberto Sampaio não caiu no esquecimento. Um dos primeiros actos da República em Guimarães foi o reconhecimento da obra deste cidadão ilustre, atribuindo o seu nome a uma das avenidas mais emblemáticas da cidade. Em 1923, Luís de Magalhães publicou o essencial da sua obra científica, na colectânea, em dois volumes, Estudos Históricos e Económicos. Em 1928, foi criado o Museu de Alberto Sampaio. Em 1956, inaugurou-se o monumento a Alberto Sampaio, no largo dos Laranjais, em Guimarães. Em 1972, foi criada a Escola Comercial Alberto Sampaio (hoje "Escola Secundária Alberto Sampaio"), em Braga.
Dele, disse o etnógrafo Luís Chaves: "(...) foi um historiador completo. Escreveu a História com arte e imaginação. 'Em toda a obra ocorre imaginação, se bem com medida diversa, como em toda a obra é desejável o carácter artístico da exposição', di-lo Xénopol, historiador." Luís Magalhães, por sua vez, apresenta a obra de Alberto Sampaio como a ponte entre a obra de Martins Sarmento (que se ocupou da pré e proto-história de Portugal) e a obra de Alexandre Herculano (que se ocupou da história da Nação Portuguesa). De facto, muitos dos seus estudos desenvolvem-se em relação a este período que se segue ao Império Romano, incluindo as invasões bárbaras e muçulmanas, até à Reconquista Cristã.
 
Obras do autor

 Obras de juventude

Em Março, Abril e Maio de 1860 publicaram-se os três números de uma revista científica e literária com o nome de "O Académico", cujos redactores eram, além de Alberto Sampaio, João de Deus, Antero de Quental, Alberto Utra Machado, e outros estudantes, como Eugénio de Barros, Francisco Guimarães Fonseca, José Maria Seixas, Bernardino Pinheiro e ainda Severino de Azevedo. Escreveu, para esta revista, três artigos: "Alvitres às classes laboriosas - Caixas económicas", publicado na revista n.° 1, em Março 1860; "Alvitres às classes laboriosas - Socorros-mútuos", no n.° 2, de Abril 1860 e, finalmente, no n.º 3 da revista, o artigo "O Jornal", em Maio de 1860.
Ainda em 1860, participou no quinzenário crítico e literário e noticioso "O Fósforo", que se começou a publicar em Novembro continuando por mais doze números até Maio do ano seguinte. Além de Cerqueira Lobo que dirigiu o jornal até ao n.° 7, também nele colaboraram Antero de Quental, João de Deus e outros. A revista acabou os seus dias no final do ano lectivo, em 30 de Maio de 1861.

 Textos dispersos e correspondência:

    * "As Vilas do Norte de Portugal", na "Revista de Sciências Naturaes e Sociaes", Porto, 1895, vol. Ill, pg. 49; na "Revista de Portugal", Porto, 1892, vol. IV, n.° 23, pg. 529 e n.° 24, pg. 741; na "Revista de Guimarães", 1893, vol. V, pg. 161 e 209; vol. XI, 1894, pg. 139; vol. XII, 1895, pg. 5, 65 e 165; vol. XIII, 1896, pg. 19; vol. XIV, 1897, pg. 161; na "Portugália", Porto, vol. 1899/1903, pg. 97, 281, 549 e 757.
    * "As Póvoas Marítimas do Norte de Portugal", na "Portugália", 1905/1908, vol. II, pg. 213, 390 e 580.
    * "O Norte Marítimo" — Memória apresentada na sessão da "Sociedade de Instrução do Porto", em honra do Infante D. Henrique, a 3 de Abril de 1889.
    * "A Propriedade e Cultura do Minho", na "Revista de Guimarães", vol. V, 1888, pg. 49.
    * "O Presente e o Futuro da Viticultura do Minho. Estudo de Economia Rural"; na "Revista de Guimarães", vol. I, 1884, pg. 196 e vol. II, 1885, pg. 20.
    * "Estudos de Economia Rural do Minho": I — A terra, o clima, os homens e a administração pública, na "Revista de Guimarães", vol. II, 1885, pg. 203; II — A cultura do mato, na "Revista de Guimarães", vol. Ill, 1886,pg. 146; III — A apropriação da terra e as classes que constituem a população campestre, na "Revista de Guimarães", vol. IV, 1887, pg. 21; IV — O gado, na "Revista de Guimarães", vol. IV, pg. 77.
    * "Resposta a uma Pergunta. Convirá Promover uma Exposição Industrial em Guimarães?", na "Revista de Guimarães", vol. I, 1884, pg. 25.
    * "Um Exemplo de Colonização Actual por 'Fogo Morto'", no jornal "A Província", de 11 de Agosto de 1887.
    * "A QuartaEdição da 'História de Portugal" do Sr. Oliveira Martins", no jornal "A Província", de 28 de Dezembro de 1886.
    * "O Sr. Oliveira Martins e o seu Projecto de Fomento Rural", no jornal "A Província", de 14, 16, 18, 23, 25 e 26 de Maio de 1887.
    * "'Os Filhos de D. João I' por J. P. de Oliveira Martins", no jornal "A Província" de 16 de Julho de 1891.
    * "Antero de Quental. Recordações", no "In-Memoriam" de Antero de Quental, Porto 1896, pg. 5.
    * "D. Sebastião' por Luís de Magalhães", na "Revista de Guimarães", vol. XV, 1898, pg. 43.
    * "João da Mota Prego. Guia Prático para o Emprego de Adubos em Portugal", na "Revista de Guimarães", vol. XVI, 1899, pg. 48.
    * "F. Martins Sarmento", na "Portugália", Porto, vol. 1,1899/1903, pg.417.
    * "Numantia, por Adolf Schulten", na "Portugália", Porto, vol. II, 1905/1908, pg. 294.
    * "C. Boulanger, Le Droit de Marche", na "Portugália", Porto, vol. II, 1905/1908, pg. 298.
    * "Vimaranis Monumenta Histórica", na "Portugália", Porto, vol. II, 1905/1908, pág. 683.
    * "Correspondência Inédita", na "Revista dé Guimarães", vol. LI, 1941, pg. 197 a 270.

Todos os textos mencionados, com excepção da "Correspondência Inédita", foram coligidos em dois volumes sob o título de "Estudos Históricos e Económicos", Lello & Irmãos Limitada, em 1923.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Historiadores e História: Edward Gibbon

 Edward GibbonEdward Gibbon (Putney, 27 de Abril de 1737 - Londres, 16 de Janeiro de 1794), historiador inglês que expressou-se no espírito do iluminismo, autor de A História do Declínio e Queda do Império Romano.
Ele nasceu em Putney, perto de Londres, numa família relativamente (não desproporcionadamente) rica. A sua família tinha uma propriedade em Hampshire. Ele foi filho único e após a morte da sua mãe quando ele tinha 10 anos, foi educado por uma tia. Teve uma saúde precária em criança. Quando tinha 14 anos, o pai enviou-o para a Universidade de Oxford.
O seu pai ficou alarmado quando o jovem Gibbon começou a dar sinais de simpatia pela igreja católica. Eram os tempos das controvérsias religiosas de Oxford (uma universidade onde os católicos tiveram alguma influência, apesar de reprimidos oficialmente).
Neste tempo, a religião católica em Inglaterra era reprimida. Para um digno senhor inglês, a conversão ao catolicismo no século XVIII acarretaria implicações significativas para o resto da vida. Muitas portas se lhe fechariam no futuro. Para evitar esta ocorrência, o pai de Gibbon retirou-o da universidade e enviou-o para o senhor M. Pavilliard, pastor protestante e tutor privado em Lausanne, Suíça. Ficou naquela cidade durante cinco anos, adquirindo uma vasta cultura.
A sua educação em Lausanne teria um impacto profundo e duradouro. Ele escreveu em suas memórias que, "qualquer que tenha sido o fruto da minha educação, ele deverá ser atribuído à afortunada expulsão que me colocou em Lausanne... Aquilo que sou, no espírito, na aprendizagem ou em maneiras, devo-o a Lausanne: foi nessa escola que a estátua se fez a partir do bloco de mármore". Sir Hugh Trevor-Roper disse que "sem a experiência de Lausanne não teria havido "A história do declínio e queda do império romano".
Em 1757, imbuído do ceticismo iluminista, Gibbon retornou para a Inglaterra, onde foi capitão da Milícia de Hampshire por dois anos. A seguir, dedicou-se aos estudos históricos e começcou a escrever.
Em 1761 publicou (em francês) Ensaio sobre o estudo da literatura. Dois anos depois faz viagem pela Europa e em Roma surgiu a idéia de sua grande obra: História do declínio e queda do império romano, obra esta que cobre não somente a história da Roma imperial mas também do Império Bizantino e da Alta Idade Média ocidental.
Após a morte de seu pai em 1770, Gibbon retorna uma vez mais para a Inglaterra. Foi membro do parlamento (1774/83) e se fez notar pela violenta oposição à independência americana.
Depois de sete anos de trabalho, publicou a primeira parte de sua obra. Obteve sucesso imediato, apesar das polêmicas motivadas por sua interpretação nacionalista das origens do cristianismo. Em 1783 retornou para Lausanne, onde terminou sua História. Cinco anos depois publicou-a integralmente na Inglaterra. Em 1793 escreveu uma Autobiografia, que foi publicada postumamente em 1796.